Humanos estão abusando dos recursos do planeta, diz ONG Por Ben Blanchard
PEQUIM (Reuters) - Os humanos estão devastando a natureza num ritmo sem precedentes que, se mantido, fará com que em 2050 a população mundial consuma por ano o equivalente aos recursos de dois planetas, disse a entidade ambientalista WWF na terça-feira.
As populações de muitas espécies, de peixes a mamíferos, diminuíram em cerca de um terço entre 1970 e 2003, em grande parte devido a ameaças humanas, como poluição, desmatamento e pesca abusiva, disse a entidade em seu relatório bienal.
"Por mais de 20 anos superamos a capacidade da Terra de suportar um estilo de vida consumista que é insustentável, e não podemos nos dar ao luxo de continuar nesse caminho", disse o diretor-geral do WWF, James Leape, ao lançar o relatório.
"Se todos no mundo vivessem como [nos Estados Unidos] da América, precisaríamos de cinco países para nos sustentar", disse o norte-americano Leape em Pequim.
Mas, de acordo com o relatório, o maior consumo per capita de recursos é nos Emirados Árabes, à frente de Estados Unidos, Finlândia e Canadá. A Austrália também está vivendo acima do que permitem seus meios.
O australiano médio usa 6,6 hectares "globais" para manter seu estilo de vida. Estão atrás dos Estados Unidos e do Canadá, mas à frente do Reino Unido, da Rússia, da China e do Japão. "Se o restante do mundo adotasse o estilo de vida que temos aqui na Austrália, seriam necessários três planetas e meio para gerar os recursos que usamos e para absorver os resíduos", disse Greg Bourne, executivo-chefe do WWF Austrália.
As mudanças necessárias para uma vida sustentável incluem a redução do uso de combustíveis fósseis e o melhor gerenciamento da agricultura e dos estoques pesqueiros.
"Conforme os países melhoram o bem-estar da sua gente, correm o risco de ultrapassar a meta da sustentabilidade", disse Leape.
"É evidente que esta desconexão acabará limitando a capacidade dos países pobres em se desenvolverem e dos ricos em manterem sua prosperidade", acrescentou.
O relatório diz que as "pegadas ecológicas" -- a demanda humana sobre os recursos naturais -- foi, em 2003, 25 por cento maior do que a capacidade anual do planeta em gerar recursos, como alimentos e energia, e reciclar todos os resíduos humanos.
No relatório anterior, o dado relativo a 2001 era de 21 por cento de excesso.
Combustíveis Fósseis
"Nas atuais projeções da humanidade, vamos usar o equivalente aos recursos naturais de dois planetas até 2050 -- se esses recursos não tiverem se esgotado até lá", disse o novo relatório. "As pessoas estão transformando recursos em detritos mais rapidamente do que a natureza consegue transformar os detritos novamente em recursos", afirmou.
"As pegadas da humanidade mais do que triplicaram entre 1961 e 2003", disse o texto. Nesse período, a população mundial saltou de 3 para 6,5 bilhões de pessoas, e pode chegar a 9 bilhões em 2050. O consumo cresceu num ritmo ainda mais acentuado.
O relatório diz que a maior preocupação atualmente é com o uso de combustíveis fósseis, que liberam gases que acarretam o aquecimento global.
Leape disse que a China, onde vive um quinto da humanidade e cuja economia cresce aceleradamente, age corretamente ao se comprometer a reduzir o consumo de energia em 20 por cento nos próximos cinco anos.
"Grande parte dependerá das decisões tomadas pela China, pela Índia e por outros países em rápido desenvolvimento."
O relatório do WWF diz ainda que um índice de 1.300 espécies de vertebrados -- aves, peixes, anfíbios, répteis e mamíferos -- mostra que as populações na maior parte das espécies caíram em quase 30 por cento devido a fatores como a perda de hábitats, transformados em lavouras.
Entre as espécies mais pressionadas estão o peixe-espada e o urubu que habita a região do cabo da Boa Esperança (África do Sul). Contrariamente a essa tendência, cresceu a população de rinocerontes de Java e do "wombat", espécie típica do norte da Austrália.
(Reportagem adicional de Alister Doyle em Helsinque)
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