Pneus velhos se transformam em cimento em Contagem - MG
Pneus velhos e sem uso são um dos grandes vilões do meio ambiente em todo o mundo. No Brasil, com a grande incidência de doenças, como a dengue e febre amarela, eles também se tornaram um problema de saúde pública. As duas maiores cidades do estado de Minas Gerais, Belo Horizonte e Contagem, estão dando passos importantes na recuperação e reciclagem dos pneus sem uso, apesar de uma resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) determinar que as empresas fabricantes e importadoras são as responsáveis pela destinação final.
A cada cinco pneus produzidos, quatro devem ter garantido um futuro limpo. Segundo a Associação Nacional da Indústria dos Pneumáticos (Anip), só em 2005 foram produzidos mais de 53 milhões de pneus no país. Na natureza, eles demoram cerca de 150 anos para se decompor.
Na quarta-feira (20/09), foi assinado um convênio entre a Prefeitura de Contagem e duas empresas para a implantação do Rodando Limpo. O município será o primeiro a participar do projeto que já está funcionando no Paraná e em estados do Nordeste. Será criado uma eco-base, onde cooperativas de catadores e cidadãos comuns poderão vender os pneus, pelos seguintes valores: automóveis, R$ 0,40; caminhonete, R$ 0,80, e caminhão R$ 2. Os objetos recolhidos serão levados para uma empresa de cimento, com sede em Matozinhos, na Grande BH.
Destinar os pneus para cimenteiras é uma das formas mais conhecidas de reciclagem, além da mistura com o asfalto. Esse método, segundo o diretor da Eco Processa, Franscisco Leme, é uma técnica usada para destruir os passivos ambientais, pois a parte orgânica do pneu gera energia para os fornos e a matéria inorgânica mistura-se à fabricação do clínquer, que vai dar origem ao cimento.
No Ferro-Velho Vitória, que fica na Via Expressa, os catadores comemoraram a notícia. Há mais de dez anos, João Paulo de Oliveira, de 26 anos, trabalha nas ruas recolhendo papel, vidro e plástico. "Agora, vou ter mais coisa para catar e vou ganhar mais dinheiro", conta. "Ele diz que costuma ver muito pneu jogado em lotes e ruas da cidade. Vamos limpar a natureza também". A colega Simone Fagundes, de 23, pretende ficar mais atenta a partir de agora. "Vou começar a recolher. Espero que ajude, da mesma forma que já tiramos muita sujeira das ruas, com as garrafas e latinhas".
Os pneus descartados no meio ambiente podem liberar substâncias tóxicas que contaminam o solo, o lençol freático e os rios. O risco de incêndios também é grande. Um pneu de automóvel contém o equivalente a 10 litros de óleo combustível, dando origem a uma fumaça negra e exalando gases tóxicos.
O borracheiro Wemerson Andrade dos Santos, de 22, diz que é comum as pessoas colocarem fogo nos pneus velhos e retirar o arame de ferro. Muita gente vende aquilo. Eu costumo jogar em lotes vagos, mas sei que não é bom, conta.
Desde 2000, o Rodando Limpo já destruiu mais de 12 milhões de pneus. A expectativa da prefeita de Contagem, Marília Campos, é que antes do período de chuvas, o projeto já esteja funcionando. A iniciativa vai contagiar a cidade. "O lixo vai deixar de ser lixo para se tornar fonte de renda", comemora.
Capital
A Prefeitura de Belo Horizonte vai firmar em breve um convênio com a Anip para a criação de um ponto de estocagem de pneus. Segundo a assessoria da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, o local já está sendo estudado. A comunidade poderá entregar os objetos nessa central, e as empresas poderão retirá-los diretamente nesse ponto. Atualmente, a Central de Resíduos Sólidos da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) recebe pneus e os utilizam no projeto paisagístico do local. Atualmente, 167 municípios brasileiros desenvolvem o projeto de centros de recepção com o apoio da associação, 28 só em Minas.
Fonte: Diário da Tarde
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