Estratégias conservacionistas Por Liliane Nogueira, de Belo Horizonte
Agência FAPESP - O Brasil concentra o maior número de espécies de primatas no mundo: são 111, cerca de um terço da diversidade existente no planeta, que habitam florestas da Amazônia até o Sul do Brasil, do litoral ao interior.
Nos últimos anos, a pesquisa científica sobre os primatas tem crescido, especialmente em áreas de ecologia e comportamento ou manejo e conservação, mas ainda existem lacunas no conhecimento sobre várias espécies – além disso, cerca de 27% do total de espécies no país está sob ameaça de extinção.
Em busca de uma definição de estratégias para a conservação dos primatas neotropicais, a Sociedade Brasileira de Primatologia (SBPr) promove o 12º Congresso Brasileiro de Primatologia, com o tema "Prioridades de pesquisa para o estudo de primatas neotropicais", na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), em Belo Horizonte, até sexta-feira (27/7).
O congresso conta com a presença de pesquisadores brasileiros e estrangeiros e estudantes interessados no estudo de primatas em diversas áreas, como ecologia, zoologia, genética e antropologia. Entre os palestrantes estão Phyllis Lee, da Universidade de Stirling (Escócia), Dorothy Fragaszy, da Universidade da Geórgia (Estados Unidos), e Eduardo Ottoni, da Universidade de São Paulo.
O inglês Anthony Rylands, diretor da área de programas de espécies em extinção da Conservação Internacional, fez a palestra de abertura do congresso. Um dos maiores conhecedores da biodiversidade dos primatas neotropicais, o pesquisador viveu no Brasil de 1976 a 2000. Nos dez primeiros anos trabalhou no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e, nos 13 seguintes, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Em 2000, mudou-se para os Estados Unidos, para se dedicar à preservação.
Segundo Rylands, proteger tanto espécies ameaçadas de extinção como ecossistemas saudáveis exige bem mais recursos financeiros e humanos do que os disponíveis atualmente. Além disso, é preciso haver critério, definição de prioridades e estratégias para garantir a sobrevivência do maior número possível.
"Quando se trata de financiamento para a conservação, o critério ou a moeda de troca no mundo inteiro é espécie em extinção", disse. Segundo Rylands, essa é uma linguagem que todos entendem, sejam governos, bancos e empresas, a sociedade que se emociona quando um animal está em vias de desaparecer ou a comunidade científica, "que referenda a ameaça de extinção, com base em exaustivas pesquisas".
"O fato é que, nos últimos 25 anos, o número de espécies de primatas no mundo dobrou. Em 1982, a lista somava 181 espécies, menos da metade das 390 catalogadas em 2007. No Brasil, existiam 77 espécies em 1999 e hoje são 111. Entre as causas desse crescimento está a descoberta de novas espécies, muitas vezes motivada pela preocupação em saber mais sobre a diversidade ou pela própria destruição da natureza, que leva o homem a lugares nunca antes visitados", disse o pesquisador inglês.
Rylands destacou que, além do aumento no número de descrições e de análises cada vez mais sofisticadas - inclusive com o uso da genética -, houve também uma mudança no conceito de espécie, com a elevação de várias subespécies para espécies.
Para ele a taxonomia, ou a ciência da classificação, é essencial para essa definição. O pesquisador lembrou de um caso recente sobre o macaco-prego-galego, ocorrido em Pernambuco, que gerou certo mal-estar entre os pesquisadores.
Um grupo afirmou que o animal era uma espécie até então desconhecida. Outro, que se tratava apenas de uma redescoberta, uma vez que teria sido visto por naturalistas europeus desde a invasão holandesa no Nordeste, no século 17 - tendo, inclusive, sido retratado pelo botânico alemão Johann Christian von Schreber, no século seguinte. "Esse caso é um bom exemplo para ilustrar a importância da taxonomia, que responde a três questões básicas: como é, qual o nome e onde vive o animal", disse.
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