Por Liliane NogueiraO Brasil está no alto da lista quando o assunto é biodiversidade, mas, entre os cerca de 1,8 milhão de espécies que o país abriga, estima-se que apenas 10% delas sejam conhecidas.
Dos seis biomas terrestres nacionais, dois foram considerados hotspot – área prioritária para conservação, com pelo menos 1,5 mil espécies endêmicas de plantas e que tenha perdido mais de 75% de sua vegetação original –, a Mata Atlântica e o Cerrado.
Com a perda da cobertura vegetal e o avanço das cidades sobre áreas de vegetação nativa, entre outras ações antrópicas, o esforço de preservar espécies em extinção se torna cada vez mais complexo e exige muito planejamento.
"Existe necessidade de expandir e fortalecer o sistema de conservação no país", disse Adriano Pereira Paglia, da Conservação Internacional/Brasil e do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix, em Belo Horizonte, que apresentou a palestra "Primatas ameaçados de extinção no Brasil – áreas prioritárias e espécies–lacunas" no 12º Congresso Brasileiro de Primatologia, promovido pela Sociedade Brasileira de Primatologia, em Belo Horizonte.
O método de planejamento sistemático da conservação baseado na análise de lacuna resulta da sobreposição dos mapas de distribuição geográfica das espécies com os mapas das unidades de conservação (UCs) para identificar quais espécies não estão nessas áreas. São as chamadas espécies-lacunas.
De acordo com a lista oficial brasileira, existem 26 táxons de primatas ameaçados no país, sendo 24 endêmicas do Brasil. Apenas duas espécies podem ser consideradas cobertas pelo atual sistema de UCs, outras duas estão parcialmente protegidas e 22 táxons de primatas podem ser considerados espécies-lacunas. Esses animais vivem em áreas da Mata Atlântica, na Amazônia e na Caatinga e se encontram em estágios diferentes de ameaça. São dez táxons em estado de vulnerabilidade, seis em perigo e dez em estado crítico.
De acordo com Paglia, das 22 espécies-lacunas seis não são conhecidas de nenhuma unidade de conservação e 20 são endêmicas. "A responsabilidade é nossa. São 20 espécies de primatas brasileiros e dez táxons listados como críticos. Ninguém de fora vai nos salvar", desabafou. Quanto às espécies-lacunas desconhecidas pelas UCs, ele diz ser urgente a criação de áreas de ocorrência efetiva dessa espécie.
Para o pesquisador, é necessária muita responsabilidade na criação das UCs. "Quando se cria uma UC é preciso envolver a comunidade para que haja compreensão sobre a importância daquela área para a conservação da biodiversidade", disse.
Segundo Paglia, ciência e apoio popular são ingredientes essenciais para o sucesso na preservação ambiental. "Não se pode criar uma área de conservação com irresponsabilidade, só porque a terra é devoluta. Há poucos anos, os governos criavam essas áreas, normalmente no fim de mandatos, como forma de justificar a ausência de ações durante a gestão. Algumas delas permanecem problemáticas, porque é terra de ninguém. Quem criou foi embora e a população do entorno não se sente comprometida com a área imposta", destacou.
Fonte:
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