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08 fevereiro 2008
 
"DESESPERO" DO MATTO DENTRO
 
Aos Amigos e Companheiros.

Quem passou pelo Setor Público conhece bem o termo “obra de empreiteira”. A transposição do Rio São Francisco é uma clara “obra de empreiteira”.

Parto do suposto de que as pessoas envolvidas não são idiotas; logo, posso deduzir que todas elas têm ciência e consciência de que a transposição é uma “obra de empreiteira”.

À parte o dano irreparável ao São Francisco - já foi chamado de Rio da Unidade Nacional - o que mais me chama a atenção na parte técnica é o seguinte:

Para chegar ao seu “porto de destino”, a água precisa subir 500 metros de altura - repito o pleonasmo: subir 500 metros na altura, e não em sua extensão linear e horizontal - através de “n” estações de bombeamento. Acreditem!

Não existe atividade que seja economicamente viável com o preço a que a água chegará a seu “porto de destino” - investimento fixo na faixa dos US$.2,5 bilhões a ser amortizado ao longo do tempo e o custo da energia, claro. Haja rentabilidade!... A não ser que - ah!, já ia me esquecendo - nós todos banquemos a rentabilidade via subsídios pesados. Não faltará um político calhorda para criar um projeto com essa finalidade; e aqui me refiro ao Legislativo, Executivo e Judiciário.

Não me venham dizer que a transposição atenderá o povão do árido e do semi-árido nordestino; isto é conversa fiada para boi dormir ou para inglês ver. Para esta finalidade, estudos técnicos demonstram que existem alternativas mais inteligentes e baratas. Contudo, essas alternativas não chegam a ser “obras de empreiteira”. E mais: não falta água no árido e no semi-árido nordestino, é bom que fique claro.

Precisamos por a boca no mundo e gritar: abaixo a “obra de empreiteira” que é a transposição do Rio São Francisco e cadeia para seus patrocinadores.

Até que enfim, estou de acordo com a Igreja Cristã Católica, pelo menos, com parte dela: longa vida ao Bispo Luiz Flávio Cappio combatendo a transposição.

Saudações indignadas de um sertanejo do Vale do Jequitinhonha que vê desde criança, quando lá nadava, seus rios - Araçuaí e Jequitinhonha - secarem devagarzinho.

Raul Paixão
10/dez/2007

P.S. Porque não um grande projeto de revitalização do Rio São Francisco? Eu mesmo respondo: não seria uma “obra de empreiteira”. A Promotoria do Meio Ambiente de Itaúna, a 80 quilômetros de Belo Horizonte, está batalhando para que a revitalização aconteça no Rio São João - Bacia do São Francisco - e nós estamos ajudando com a preservação e/ou revitalização de suas matas ciliares, entre outras atividades.
 
 
 
   
 
 
 
 
 
 
 
   
   
   
 
 
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
   
   
 
 
   
   
   
 
 
 
   
   
 
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